A exemplo de praticamente todos os segmentos econômicos
mundiais, o setor do couro vive, hoje, certamente a pior fase em todo mundo
desde a crise de 1929 – também conhecida como Grande Depressão -, que provocou
uma forte recessão econômica atingindo o capitalismo internacional.
Com a pandemia do coronavírus, a indústria do couro tem
sofrido com o fechamento de lojas do comércio varejista no mercado interno, com
a queda das exportações nos mercados internacionais, principalmente da Itália e
da China (maiores compradores do couro brasileiro), e com a paralisação da
indústria de estofamento automotivo e dos fabricantes de calçados e artefatos.
Cachoeirinha
– PE é o maior centro produtor de artesanato em couro e aço do Estado. Lá, quem
pratica montaria encontra de tudo: da sela ao chocalho; botas, calças; do gibão
a arreios; fivela de aço, cintos, chicotes; da espora ao chapéu de couro.
De acordo com o tesoureiro do Sindicato do Couro de
Pernambuco (Sindicouro – PE), Rafael Coelho, 98% das empresas ligadas ao setor
coureiro calçadista estão paradas e o impacto tem sido muito forte. “É
impossível calcular os prejuízos no momento, mas a crise é grande e há ameaça
de desemprego de dezenas de milhares de trabalhadores entre o setor curtidor e
o calçadista”, ressaltou.
Para Rafael Coelho, que também é diretor do Curtume
Moderno, em Petrolina, a recuperação do setor está diretamente vinculada à
abertura das lojas no Brasil e no exterior, que atuam como canais de
distribuição das indústrias. “É preciso iniciar a modulação do fim da
quarentena. Não é um decisão fácil diante da gravidade, sobretudo pelas
consequências do problema. Não gostaria de estar na posição de quem deve tomar
essa decisão. Mas como todo grande problema, fatiar a responsabilidade seria
uma boa forma de resolver”, sugeriu.
Coelho argumentou ainda que as decisões da quarentena
estão sendo tomadas olhando os números das cidades de São Paulo, Rio de
Janeiro, Manaus, Recife, Fortaleza – que têm características e riscos muito
diferentes de cidades do interior. “É hora de flexibilizar a quarentena em
cidades que não apresentam casos ou ainda com disponibilidade de leitos. E
assim fazer com que parte do País volte a funcionar gradativamente, cuidando
das pessoas idosas e de risco”, concluiu.
Segundo o presidente das Indústrias de Calçados do
Estado de Pernambuco (Sindical-PE), Luiz Grimaldi, o problema maior do setor é
o alto índice de valor agregado das matérias-primas e os efeitos dos impostos
sobre elas. “Se já era uma dificuldade antes dessa crise, agora, é ainda mais,
porque os produtos ficam mais caros e sofrem com a falta de demanda”, analisou.
Grimaldi destacou a questão do custo Brasil e como isso
tem levado muitas empresas para outros países, a exemplo do Paraguai. “No
Brasil, o custo para fazer um sapato ou uma bolsa é quase três vezes maior que
em países como o Paraguai. É uma competitividade desleal para os itens
produzidos aqui”, lamentou o presidente, que relatou ainda o sentimento de
perda pelo qual os empresários do segmento em Pernambuco vêm passando, com
redução de postos de trabalho e encerramento das atividades. “A mudança desse
quadro depende, além das medidas emergenciais dos governos, de uma reforma
tributária que vise à competitividade”, opinou. Ao todo, Pernambuco conta com
87 indústrias do setor, que, de certa forma, estão em dificuldade.
Sentindo na pele os efeitos da crise provada pela
Covid-19, o empresário da Dona Rosa, Rubem Martins, contabiliza os danos e
refaz estratégias para salvar a empresa da família e os empregos. “Estamos
totalmente parados e essa é a primeira vez que damos férias coletivas aos
funcionários nos últimos 15 anos, o que tem repercutido numa queda de 100% do
faturamento, já que a produção e, por consequência, as vendas estão totalmente
paradas”.
Além de estudar alternativas que tragam eficiência
neste período de pandemia, Martins acredita que a aposta deva ser nas vendas
pelos canais online para manter, o mínimo, de presença no mercado. “Torço
também para que a atividade produtiva volte o mais rápido possível, pois o
nosso segmento será um dos últimos a sentir as melhoras, pois tratam-se de bens
não essenciais a vida humana. Então, quanto mais rápido, melhor”, comentou. O
empresário também disse temer pela saúde financeira dos seus fornecedores,
cujas relações são primordiais para a natureza do seu negócio. Atualmente, 80%
dos insumos vêm do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de Pernambuco.
Fonte:
Jardim do Agreste
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