Tem muita gente
comemorando o caos global gerado pelo coronavírus.
A tendência é que
tenhamos um salto gigantesco na audiência da internet, cada vez mais a única
via de interação e de informação – boa, ruim ou péssima – a que temos acesso.
Eu lido diretamente
com esse bicho. As ações do aplicativo Zoom, que usamos para fazer
vídeo-conferência, dispararam.
Sites, blogs,
canais de Youtube, terão uma explosão de novos usuários nas próximas semanas –
e muitos executivos da cena digital se reposicionam e investem para consolidar
suas marcas.
É a corrida digital
do coronavírus – com as cifras de oportunismo e desumanidade embutidas.
O mundo nunca mais
será o mesmo (nem nesse nem em tantos outros aspectos).
Esqueçam em
definitivo jornais e revistas de papel. Eles morreram para sempre.
Teremos, ademais,
de dar um novo significado à experiência social. Valorizar mais a presença do
outro.
A jornada será
longa, meus queridos.
Na quarentena
global, seremos obrigados a refletir sobre nós mesmos – e o topo da pirâmide
financeira tem verdadeiro pânico em ver sua força escrava de trabalho
“pensando”.
Os filmes
apocalípticos parecerão brincadeira de criança perto da complexidade real que é
uma pandemia biológica associada ao pânico dos mercados. Não porque eles não
são suficientemente aterrorizantes, mas justamente porque o terror social que
se torna real ganha um ar de normalidade insuportável.
É quase paradoxal,
mas o grande horror que nos espreita é a normalização e a institucionalização
de um problema criado por nós mesmos: as relações desumanas de trabalho, as
aglomerações desestruturadas urbanas, a ganância, o desprezo atávico pela saúde
pública, pelo transporte coletivo, pela educação.
Não é a classe
média no espelho, mas é a humanidade no espelho.
Nós, no Brasil,
temos um ingrediente adicional, o mais letal deles todos. Temos um presidente
que se alimenta da propagação de mentiras e da própria possível doença: ele
violou a quarentena e saiu às ruas – sem sair do carro – nas manifestações
fascistas deste infame dia 15.
Como é da cultura
de todos nos brasileiros, deixaremos para a última hora o combate mais
importante nessa crise de coronavírus: a retirada do poder do vírus humano que
atende pelo nome fantasia de Bolsonaro [o Covard-38].
E não custa
comentar: a essa altura do campeonato, tem gente preocupada em não gerar
pânico. Em geral, quem pede para não gerar pânico, ‘está’ em pânico.
A linguagem é
ingrata: ela acaba sempre por revelar o sujeito que habita as profundezas do
‘eu’, basta ter um pouco de atenção.
Em tempo: nós não
precisamos nos preocupar com o ‘pânico’, que já existe a despeito do nosso
desejo. Nós precisamos enfrentar o desafio inédito de seguir protocolos de
segurança que nos garantirão a vida e a coletividade, com pânico, com STF, com
tudo.
Como o Brasil tem a
elite mais egoísta e sanguinária do planeta, o desafio se estende a também
sermos obrigados a lidar com ela.
Eles é que estão em
pânico (pânico é um sentimento pequeno-burguês: rico tem pânico, pobre luta –
nasce lutando).
Era uma hora boa
para resolver essa pendência histórica no Brasil: a hora em que todas as
classes estão no mesmo barco da incerteza (quem sabe uma revolução comunista
armada?).
Fato é que o Brasil
experimenta o coquetel ideal do genocídio assistido, processo de controle
social desejado por essas elites milicianas e empresariais que debutam no
poder.
E nós ainda
insistimos em assistir a isso como um show passageiro de horrores.
Trata-se não de
erro primário ou estratégico, mas de um gesto suicida.
A epidemia de
covardia no Brasil ainda é muito grande. Contra ela, nós não podemos criar
anticorpos ou vacina: nós temos de permanecer alérgicos.
O recomendado pelo
“infectologia política” é não permitir a aproximação da covardia. Dilma
Rousseff nos ensinou isso de maneira quase rudimentar, por duas vezes seguidas
na história: uma quando não entregou companheiros sob tortura física, outra
quando não aceitou conciliação sob tortura política, judicial e midiática (uma
tortura tão hedionda quanto o pau-de-arara).
Dizem os ditados
surrados que perambulam como zumbis por aí, ao longo da história: é das crises
que nascem os líderes.
Talvez, tenha
chegado mais essa hora para o nosso destino – que carece de líderes porque
chafurda no superávit de covardia.
É bom liderarmos
todo esse processo devastador de morte ‘biopolítica’. É liderar primeiro a
própria “casa”, a autoestima. Depois, multiplicar esse processo entre os seus.
Esse foi o
aprendizado deixado por Lula, por ora e ainda, o único líder ainda em atividade
neste país.
Fonte: Jornal GGN
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