Bolsonaro perdeu as condições políticas, morais e
mentais para continuar como presidente. Ele, seus filhos e seus seguidores
sabotam o Brasil e o povo brasileiro num momento de gravíssima crise e de temor
generalizado da sociedade. Bolsonaro, além de não governar, investe contra os
poucos bolsões de governabilidade que existem em seu governo. Traidor do Brasil
e de seu povo, investe no caos, na desordem e na convulsão para manter-se no
poder. Isolado politicamente e, provavelmente, cada vez mais isolado dos
militares que sustentam o seu governo, entende que a única saída para a
sua sobrevivência é a divisão do Brasil, a desunião, justamente no momento em
que todos deveriam se unir para enfrentar o perigo maior, o perigo da pandemia
e da morte.
Neste momento grave, no entanto. Bolsonaro se vale da
ousadia dos celerados, da ousadia dos traidores, da ousadia tiranos, para
semear a discórdia, a desunião, a confusão, o caos e a convulsão social. Se
ninguém o detiver, o Brasil mergulhará na anomia e, quiçá, na guerra civil.
Para salvar vidas, vários setores institucionais, instâncias federativas e a
maior parte da sociedade estão em desobediência civil em relação aos desmandos
do presidente. Mas há criminosas conveniências e covardes omissões.
A Procuradoria Geral da República pratica uma criminosa
conivência com os crimes e ilegalidades do presidente. O Congresso nacional, os
presidentes da Câmara e do Senado, as bancadas parlamentares do centro político
e das esquerdas não agem com a firmeza necessária para deter a escalada de
crimes e desatinos cometidos por Bolsonaro e seus filhos. O STF precisa
ser acionado com urgência para abrir processos criminais contra Bolsonaro,
visando afastá-lo com urgência. Em toda a história e nas várias histórias
políticas dos povos, os tiranos triunfaram porque aqueles que deviam agir para
detê-los não agiram, se omitiram e foram derrotados pela sua covardia.
O centro político, as esquerdas e os ditos
democratas querem tratar com mesuras aqueles que se pautam pela desmesura e
pela arruaça política e institucional; querem tratar com polidez aqueles que
só conhecem a linguagem do grotesco e da incitação à violência; querem
tratar com condescendência aqueles que, se alcançarem um regime de força, não
terão nenhuma condescendência, nenhuma piedade, nenhuma misericórdia. Esses
camisas de punhos de renda parece que nunca estudaram a história.
É certo que
Bolsonaro está isolado politicamente e que não tem forças para intentar uma
aventura golpista neste momento. O problema é que as tiranias se implantam na
esteira da confusão, do caos e das indecisões dos políticos pusilânimes.
Bolsonaro sabe que a pandemia está mergulhando o povo
no medo e que a crise econômica e social vai se agravar com o desemprego e com
a fome. Como ninguém assume o comando do país, ele investe numa tese que
aumenta a desgraça para depois se apresentar como o salvador. Sem lideranças
políticas e sem atitudes viris do centro e das esquerdas, Bolsonaro poderá
levar massas desordenadas e desesperadas de roldão para tentar implantar um
regime de força. Por isso precisa ser detido antes que o caos e a convulsão se
instaurem.
Grave responsabilidade pesa neste momento sobre os
militares. Eles precisam dizer de que lado estão no presente e como querem ser
vistos pela história. Precisam decidir se estão no lado da sensatez e da razão
ou se estão no lado da aventura criminosa e da irresponsabilidade. Precisam
decidir se estão do lado do Brasil e de seu povo ou se estão do lado de uma
família de celerados que só querem o poder para cometer atrocidades. Precisam
decidir se estão engajados no processo de construção de um país democrático e
justo ou se estão secundando um projeto de destruição do país e da dignidade de
seu povo.
Os militares conhecem bem Bolsonaro e não podem dizer
que foram enganados. Bolsonaro foi expulso do Exército por atos de
indisciplina, por ser um mentiroso contumaz por ser incapaz de observar honra
militar e a disciplina e por planejar atos terroristas. O movimento
bolsonarista está descambando para o terrorismo: proferem ameaças de todos os
tipos contra seus inimigos e adversários políticos, inclusive ameaças de morte.
Isto precisa ser investigado como terrorismo.
Os militares imaginaram que poderiam controlar Bolsonaro
na presidência, exercendo uma função de tutores. Não só não estão fazendo nem
uma coisa e nem outra, como foram humilhados por Bolsonaro e seus filhos várias
vezes, quando estes assumiram o partido de Olavo de Carvalho contra o partido
dos generais. Pelo que se lê nas análises, hoje os generais que estão no
governo não só têm medo de confrontar Bolsonaro, como sequer se arriscam a
aconselhá-lo com os argumentos da sensatez, da razão e do amor à pátria. Estas
omissões são perigosas porque podem se tornar conivência criminosa – algo que a
história não perdoará. Não perdoará porque não há nenhuma dúvida de que
Bolsonaro está no lado da maldade, contra o Brasil e seu povo.
Neste momento de tensão e medo, o Brasil precisa de um
governo que unifique o povo numa direção única, definida por critérios científicos,
técnicos e pelos ditames da Saúde e da OMS. O Brasil precisa de um governo que
chame à unidade de ação para enfrentar a pandemia pelas melhores recomendações
médicas e pelas melhores experiências já vividas até agora no âmbito de outros
países. O Brasil precisa de um governo que seja capaz de fornecer prontas
respostas para enfrentar o desemprego, socorrer as empresas que não demitirem e
buscar saídas anticíclicas para a crise econômica. O Brasil precisa de um
governo que seja o chefe da solidariedade, da fraternidade e da compaixão neste
momento triste e trágico, onde todos precisam se ajudar, onde todos precisam
obedecer as recomendações para evitar a doença e a morte. Bolsonaro é o oposto
extremado de todas as qualidades e virtudes do tipo de governo que o Brasil
precisa neste momento.
Cada vez mais teremos pessoas desesperadas, passando
fome e morrendo por conta da pandemia e das crises social e econômica. Nem o
povo e nem o Brasil podem esperar. A vida é o maior bem que uma pessoa tem. As
pessoas querem viver. Não importa a idade ou se é mais um dia, mas uma semana,
mais um mês, mais um ano de vida.
Ninguém, muito menos o Estado, muito menos os
governos, muito menos as autoridades públicas podem decidir que uma pessoa
possa viver menos um minuto sequer. Bolsonaro despreza a vida dos outros e não
sente a menor compaixão com a dor e a morte dos outros. Ele é a encarnação do
Terrível e do Funesto. Razão ele nunca teve. Até as pedras duvidam de que ele
tenha coração. Por isso, precisa ser afastado com urgência.
Aldo
Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (Fespsp).
Fonte: Jornal GGN