Se os empresários não saíram pela tangente e tentaram
amenizar o constrangimento, a presepada de Bolsonaro desta quinta-feira pode
ser mais um trecho pavimentado por ele mesmo do asfalto ladeira abaixo do seu
governo.
Curto e grosseiramente indagando, esses empresários que
foram ao Planalto pedir ajuda ao presidente da República para sacudir a
economia e discutir planos para depois do isolamento, pensaram que iriam ser
recebidos por um líder estadista? Ou foi uma encenação de Bolsonaro combinada
com alguns empresários?
Bolsonaro improvisa uma ida ao estilo de patota, a pé,
fora da agenda, ao Supremo Tribunal Federal, tipo pessoal da pelada indo
visitar a turma da várzea mais próxima, com todo o respeito ao futebol de
várzea e ao Poder Judiciário.
De acordo com os empresários, a ida ao STF em turma, –
como quem diz: vamos lá dar uma pressionada naqueles caras –, não estava
prevista no encontro deles com o presidente, o que teria causado surpresa aos
representantes de considerável fatia do PIB brasileiro.
Pode-se imaginar Bolsonaro quicando um tapa na mesa ou
abrindo largamente os braços para depois tirar da sua cartola mágica simplória,
em alto e bom som, um vamos lá, galera, pois eu não posso fazer mais nada. Já
fiz de tudo, botei minha torcida na rua com faixas e bandeiras – e até ameaças
entoamos no trombone. Quero resolver, mas eles não deixam.
Obviamente, se fato verídico, quem teve a ideia do
improviso agiu como se os empresários fossem uns imbecis, a exemplo dos
bolsonaristas truculentos que saem por aí de verde e amarelo berrando “o Brasil
é meu” e o escambal.
Se já imaginavam ou não, os tais representantes de
certa fatia do PIB puderam constatar, ou reafirmar, de perto, nesta
quinta-feira, o que é estar diante de um presidente inepto, sem liderança
nacional – um presidente que não entende e não quer entender nada de economia,
ao lado de um ministro da Fazenda com cara de tacho, a mesma cara durante e
depois do encontro com o ministro Dias Toffoli.
Digo se foi ou não encenação porque depois surge o
disse que disse sobre a agenda, ah, foi um mal-entendido, etc. – mas tudo
indica que não estava mesmo marcada essa ida inopinada ao STF. Por outro lado,
só um bobinho poderia imaginar que os empresários pudessem colher alguma coisa
no STF – e sem “tchum” da presença dos outros 10 ministros, claro – para
incentivar o fim geral do isolamento da população e possibilitar que os 38
milhões de trabalhadores informais sobrevivam, conforme sublinhou Bolsonaro.
Como se os informais, voltando para as ruas, resolvessem a crise econômica.
Se, por outro lado, tergiversaram diante das câmeras de
televisão e imaginaram que, como representante de boa parcela do PIB, pudessem
funcionar também como mais uma falange de pressão junto ao STF, para a economia
não quebrar, poderíamos concluir que o processo cognitivo dos industriais
brasileiros sobre a dinâmica da realidade talvez esteja no mesmo nível da
patota ignorante de Bolsonaro.
Mas, certamente, parece não ser o caso. E, sem dúvida
alguma, esses empresários devem estar sentindo muita saudade do tempo do
Conselho de Desenvolvimento Econômico dos governos anteriores. Do tempo em que
havia, por exemplo, um Ministério da Indústria e Comércio e outro da Fazenda.
Bolsonaro, na verdade, quis mostrar ao país que, além
das claques raivosas, os empresários também estão com ele. Flagrante e patético
o mico geral – Paulo Guedes com cara de tacho e empresários se justificando
diante dos jornalistas, depois que Toffoli não só reafirmou que o isolamento é
necessário, mas que as medidas que vêm sendo tomadas pelas autoridades
governamentais e sanitárias estão corretas.
O mico se agravou ainda mais depois que se começou a
dizer as baboseiras de sempre diante das câmeras, que a economia iria “parar na
UTI” se o isolamento continuasse, o que causou visível constrangimento aos
empresários. Argumento baixo nível para além de duvidosa ética – e, claro,
paradoxal, não? Pois, afinal, “salva-se” a economia de que maneira, salvando os
empresários e matando os trabalhadores? Como assim, cara pálida?
Então, que presidente é esse que não acena com outras
alternativas, é a indagação inevitável que deve estar passando na cabeça de
muitos empresários que participaram da reunião e de outros que não estavam no
encontro. Fazer o quê, exatamente, no STF? Que cabimento tem isso?
Se um dos importantes atores da chamada sociedade civil
faltava para aderir a um “fora Bolsonaro”, esse encontro de ontem pode ter
fornecido um ensaio de conjectura possível, espécie de aperitivo inicial para
se começar a engrossar a percepção de que Bolsonaro não pode fazer nada mesmo
porque seu governo está preocupado com outras coisas – e não com essa questão
complexa de economia.
Ainda que esta previsão possa estar errada, como fruto
talvez mais de um desejo meu do que de uma cuidadosa prospecção de cenários
futuros, fato é que oráculo algum dá conta do jogo errático da política numa
crise econômica como essas – crise de um país parado, praticamente, há cinco
anos, engolfada agora pela pandemia do novo Coronavírus. Até porque, como
disse o jornalista Gleen Greenwald no ano passado, depois que Bolsonaro foi eleito,
tudo pode acontecer no Brasil.
Fonte:
Jornal GGN
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