quinta-feira, 7 de maio de 2020

ABAIXO O BOLSONARISMO, POR FRANCISCO CELSO CALMON





Na luta contra a ditadura existiram algumas palavras de ordem. Vou relembrar as três principais: o povo organizado derruba a ditadura, o povo armado derruba a ditadura, o povo no poder.

O povo organizado significava uma condição, o povo armado indicava um caminho, o povo no poder o objetivo posterior, antes era necessário apear os militares do poder, por isso mesmo a palavra de ordem geral e unificadora era ABAIXO A DITADURA.

Nunca colocamos o ditador de plantão como o alvo central, o alvo era o sistema ilegítimo, arbitrário, tirânico, antipovo, isto é: a ditadura militar vigente.

As palavras de ordens podem significar condição, caminho, objetivo e até posterior desígnio. Cada uma precisa ser colocada no tempo certo para ser viável ou no tempo todo para ser vetor.

Bolsonaro, é como o seu apelido de infância, palmito, que mal conservado ocasiona o botulismo. O botulismo, que é uma doença que gera a paralisia da musculatura, é o alvo a ser atingido, antes que a paralisia das instituições propicie a consolidação do Estado policial de natureza nazifascista.

O presidente sociopata, o tempo todo provoca e testa as instituições, dependendo da reação, recua e volta a testar. Nessa tática comum de guerra psicológica e de movimento, usa de blefe, meias verdade e mentiras, ele vai paralisando, sitiando as instituições e avaliando o poder de reação das forças contrárias e de seu próprio handicap.

Desrespeita a Carta Magna, desafia os demais poderes republicanos, incita seus áulicos, confunde e divide a população, e contribui para o caos. Já ultrapassou todos os limites da civilidade e da legalidade. De forma que se não for apeado do governo, as instituições democráticas ficarão desmoralizadas e ele hipertrofiado.

O bolsonarismo é maior que o seu palmito e vai ter vida política mesmo depois que o sociopata miliciano for derrubado. Mas enquanto não ocorrer, vai se consolidando como movimento antidemocrático e belicoso.

Em tempos de pandemia da Covid-19 e dos pandemônios produzidos pelo bolsonarismo (governo e seguidores), o povo sofrerá mortes, desempregos, fome, miséria, em proporções nunca vistas.

O povo responsabilizará a quem, ao inimigo invisível ou ao inimigo visível?
Nesta altura a situação é de um dilema: ou Bolsonaro cai ou o bolsonarismo se fortalece com o seu modus operandi e sem freios.

A condição para tirar o Bolsonaro do poder é o fortalecimento da bandeira Fora Bolsonaro, porém, não é o suficiente, pois o povo e a esquerda sem as ruas ficam quase invisíveis, vez que no campo institucional está enfraquecida e Lula também fica com pouca visibilidade, por boicote da mídia golpista e também porque o seu forte é o contato com as massas.

A esquerda, mesmo que desejasse, não conseguirá, nessas condições, o protagonismo do movimento para tirar o sociopata do poder.

E o caminho qual será? Impeachment, interdição, renúncia, licença? Qualquer que seja dependerá das mesmas forças golpistas de sempre, das que deram o golpe de 64 e de 2016.

Deriva daí ficarmos olhando a banda passar? Não, “never”, jamais!

A associação do bolsonarismo com a lavajatismo tem que ser fomentado na consciência da sociedade. Mostrar que o bolsonarismo é filhote do lavajatismo.
Como levar Bolsonaro e Moro a responderem pelos mesmos crimes?

O lavajatismo é a versão moderna do modelo golpista de sempre, que usa da bandeira da luta contra a corrupção para derrubar governos progressistas e continuar praticando a corrupção, que é da essência do sistema. Por isso, os mantenedores do sistema utilizam dessa bandeira, a qual o povo é suscetível de apoio, no limite de seus interesses políticos e sistematicamente delinquentes.

Se a sociedade se conscientizar que a associação Moro&Bolsonaro é uma coisa só, será desafiador para estabelecer a prioridade na palavra de ordem alvo: Abaixo o bolsonarismo ou lavajatismo. Explorar as contradições que estarão existindo durante essa refrega entre eles, será de muita importância para a conscientização do povo. Devemos estar atentos que ambos são mentirosos, mas dizem verdades quanto se trata de falar um do outro.

Nesta especial situação de tripla crise que o Brasil vive, o “Abaixo o bolsonarismo” é imediata, mas não dever ficar sem conexão com a crítica ao lavajatismo.

Fora Bolsonaro cresce na vontade do povo e a esquerda não deveria ficar orientado por análises lógicas, tecnicamente brilhantes, mas não dialéticas, não sob o eixo histórico da luta de classes.

Quando uma vontade social, mesmo que virtual, ganha força, os partidos de esquerda, principalmente o PT, devem estar junto na condução. Se não exercem esse papel, a direita encampa e dá o sentido e o destino que lhe interessa.

O cristianismo foi encampado pelo poder romano e deu no que deu, as manifestações de 2013 foram encampadas pela Globo e deu no impeachment da Dilma.

Sem as ruas, sem o parlamento e o STF presenciais, e sem paridade de armas na luta jurídica e política, o desafio da esquerda é muito grande e complexo.
Contudo, quando a situação for mais complexa do que a nossa capacidade analítica, nos guiemos por um princípio leninista: “Não nos isolemos do povo, submetamo-nos ao seu veredito cada um de nossos passos, cada uma das nossas decisões, apoiemo-nos por inteiro, e exclusivamente, na livre iniciativa que emana das próprias massas trabalhadoras.”

Francisco Celso Calmon é administrador, advogado, coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).

Fonte: Jornal GGN

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