segunda-feira, 13 de julho de 2020

AS MUDANÇAS IRREVERSÍVEIS COM O TRABALHO EM CASA




Uma constatação definitiva é que o pós-pandemia marca o fim da era dos escritórios. Trata-se de um fenômeno que tem muito mais consequências do que os impactos econômicos sobre aluguéis e investimentos.

XP está fechando vários escritórios. Apenas um deles tem um total de 12.145 m2 na área mais valorizada de São Paulo. O Google caminha na mesma direção do trabalho em casa. E, com eles, a maioria das empresas de serviços.

A instituição do escritório não é apenas o local de trabalho. É o ponto central de sociabilidade nas empresas, um anteparo à separação de classes, em que pese a divisão entre espaços de executivos e dos funcionários. E também um campo para fortalecer os laços dos funcionários com as empresas e identificar um funcionário cada vez mais relevante nas modernas organizações: o empreendedor interno, o sujeito que aprende a se relacionar com os diversos departamentos e a buscar soluções para problemas pontuais.

No almoço, e no final do dia, os funcionários se reunem em refeitórios, restaurantes ou bares para confraternização. É um espaço para a sociabilização das pessoas e também para a formação de tribos. Tem a tribo da Vila Olimpia, dos Jardins, da Paulista.
Com a expansão do trabalho em casa, haverá os seguintes efeitos:

1. Descentralização.

Se o instrumento de trabalho é apenas o computador, tanto faz trabalhar na Vila Olimpia ou em Guaranésia. Haverá uma volta à origem pelos trabalhadores de escritórios. As “tribos” serão exclusivamente virtuais.

2. Dificuldade em preservar a lealdade interna.

Empresas modernas ganham sinergia consolidando valores entre os funcionários. No ambiente virtual, haverá dificuldades. No caso de bancos de investimentos, pensa-se no fornecimento de vouchers para “happy hour”, proposta inútil já que os funcionários estarão espalhados por endereços não necessariamente próximos.

3. Enxugamento das redes bancárias.

Em um momento distante, antes da enorme concentração bancária, o gerente era quase um consultor pessoal do cliente, analisando pessoalmente a seriedade, a segurança da operação.  Fazia uma aposta no futuro. No processo de expansão da fronteira agrícola brasileira, os bancos tiveram um papel central no financiamento dos novos negócios.
Com a cartelização e a informatização, o crédito passou a ser subordinado a análises estatísticas de computadores impessoais. As agências se tornaram apenas locais para informações ou solução de problemas burocráticos, especialmente para pessoas físicas menos conectadas.

Esse papel está sendo assumido pelas cooperativas de crédito, um modelo que cresce significativamente, mas tem pouca visibilidade na mídia.

Para os grandes bancos, com a expansão dos contatos online haverá uma redução significativa das agências e o enfraquecimento de uma classe trabalhadora que, nas últimas décadas, esteve na linha de frente da defesa do emprego, a dos bancários. E, junto com ela, uma redução maior ainda em identificar novos setores promissores.

4. Explosão da terceirização

Se o funcionário passa a ser um terminal de computador, a avaliação é pelo resultado final que entra no terminal do controller. A avaliação de desempenho será concentrada exclusivamente no resultado final do trabalho.

Abre espaço também para a criação de empresas terceirizadas no interior do país, reforçando a interiorização dos serviços.

5. Fortalecimento das instituições regionais de ensino

Como o novo mundo será essencialmente tecnológico, a demanda por mão de obra e o fim das limitações geográficas levarão as instituições regionais e municipais de ensino a ampliarem cursos de tecnologia da informação.

Fonte: Jornal GGN

Nenhum comentário:

Postar um comentário