A defesa da democracia em tempos de crise do governo de
Jair Bolsonaro e a possível ameaça com medidas autoritárias precisa ser
enfrentada em duas frentes: o entendimento, por parte da esquerda, de que a
atualidade exige “retificação de postura e estratégia” e, pela direita,
compreender o populismo em sua natureza de hostilidade a partidos e
instituições democráticas.
A opinião é do professor da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas, da FGV-Rio, Octavio Amorim Neto, em coluna para a Folha de S.Paulo. “O
tempo político exige retificação de postura e estratégia”, analisou, ao
confrontar as posturas que devem ser tomadas pelos partidos de esquerda.
É nesse sentido que ele avalia não ser “hora de armar o
tabuleiro para 2022”, mas de garantir a manutenção do sistema democrático, por
meio do diálogo nacional. “Cabe às lideranças do PT contribuir —com seu peso
político e interlocução com diversos setores da sociedade— para viabilizar o
diálogo nacional em torno de uma solução institucional para a crise atual. A
ausência do partido poderá ser fatal para o êxito dessa solução.”
Já por parte da direita, Octavio Amorim Neto analisa a
necessidade de não se generalizar o conceito de populismo e entendé-lo como
fenômeno político e não econômico, não relacionado necessariamente a uma ou
outra posição.
“O núcleo duro do populismo reside na ausência de
intermediação institucional ou partidária entre o líder populista e as massas”
e, neste contexto, sobretudo o da América Latina, a essência do populismo “é a
hostilidade a partidos e instituições legislativas”, ocupando, com esta
característica, uma variedade de posturas econômicas.
“É imprescindível que se compreenda que o populismo não
tem a ver com a política econômica, sob pena de se cometerem sérios erros de
avaliação. Nesse sentido, Lula não é um populista precisamente porque chegou ao
poder e o exerceu por meio do PT”, exemplificou.
Por isso, para o autor, “é fundamental que liberais e a
centro-direita democrática compreendam que Lula e Bolsonaro não são expressão
do mesmo fenômeno político. São radicalmente distintos”.
“Lula cometeu erros, assim como FHC, mas jamais deixou
de jogar o jogo institucional. Essa constatação é um tijolo importante na
construção de uma frente democrática, tão importante quanto o abandono de
ressentimentos pela esquerda petista”, concluiu.
Fonte:
Jornal GGN
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