Nas últimas semanas testemunhamos a chegada da pandemia
do coronavirus no país. A epidemia das opiniões, que sempre existiu desde as
primeiras organizações sociais humanas, tornou-se pandemia com o advento das
redes sociais e vem infectando corações e mentes no Brasil de forma
avassaladora desde as últimas eleições. Nestes tempos de contágio e
contaminação de pulmões e mentes, os leitores desta crônica com certeza já
estão bem informados sobre a contaminação viral. Sobre a infecção e a
contaminação opiniática e como evita-las, cito a seguir as sábias palavras de
um filósofo renascentista.
“Estas opiniões mal compreendidas e mal adotadas, como
são por muitos, trazem a injustiça, a perturbação, a dor e muito mal, como se
pode verificar naqueles que mordem à torto e à direito, se vangloriam e se
sujeitam a outros. …. Quando se metem em alguma coisa, é com tal paixão e
violência que já não estão em si mesmos”.
“É preciso ser bem firme e forte para não se deixar
levar pela corrente, bem são e preparado para se preservar imune de um contágio
tão universal: as opiniões gerais recebidas com aplauso de todos, e sem
contradição, são como uma torrente que leva tudo”.
“Uma ampla, nobre e generosa liberdade é [a principal]
característica da sabedoria, pela qual o sábio, higienizado de todo erro e
paixão, considera e julga todas as coisas sem se contaminar por nenhuma. … Esta
liberdade … é a eliminação de tudo que perturba, infesta e debilita o espírito,
impedindo a sabedoria, como fazem todos os erros populares, opiniões baixas,
fracas e frequentemente falsas, das quais o mundo está coalhado, que nos atraem
e as quais facilmente aderimos devido à sua multiplicação contagiosa. …. Para
se preservar deste miserável cativeiro e da mão [contaminada] destes inimigos
externos [que são as opiniões vulgares] e internos [que são as paixões
exacerbadas], é necessário aprender e se resolver a não assentir nem seguir as
opiniões [compartilhadas sem juízo crítico], pois são incertas, inconstantes e
condutoras de loucos. É preciso, ao contrário, sempre e em todas as coisas, se
pautar pela razão, guia dos sábios. Seguir a razão é a verdadeira liberdade e
autonomia. Deixar-se levar pela opinião é severa servidão”.
Fonte:
Jornal GGN