quinta-feira, 19 de novembro de 2020

POR QUE SILVINO PERDEU UMA ELEIÇÃO QUE PARECIA GANHA?

 


Por Roberto Almeida

Silvino Duarte, 71 anos, não saiu menor do que entrou na campanha eleitoral deste ano.

Teve mais de 20 mil votos, enfrentando adversários fortes, e ficou a menos de dois mil votos atrás do candidato que venceu a disputa, o deputado Sivaldo Albino, seu ex-aliado, quando governou Garanhuns.

Há uma frase conhecida em política que diz: “A derrota é órfã, mas a vitória tem muitos pais”.

Quase sempre isso é verdade.

A vitória de Sivaldo foi construída por muitos. Em primeiro lugar por ele mesmo, por ter sido bom vereador e com pouco tempo como deputado ter realizado um trabalho reconhecido pela população.

Depois, quando assumiu a candidatura à prefeitura, o socialista já tinha construído uma aliança ampla, com participação do PT, PSD, PDT, PC do B e Avante.

Teve um verdadeiro exército de candidatos à Câmara, que foram fundamentais na divulgação de propostas, na propagação do discurso de mudança e na desconstrução da imagem dos adversários.

Pedro Veloso, médico, um tanto tímido no começo, terminou se integrando totalmente à campanha e como é um homem sério, de uma linha ideológica firme, defensor das políticas sociais do Partido dos Trabalhadores, terminou contribuindo bastante com essa vitória histórica do PSB em Garanhuns.

O PT na vice trouxe Lula e Fernando Haddad para o palanque eletrônico do rádio e das redes sociais.

Demorou um pouco, mas no fim o povo de Garanhuns percebeu que Sivaldo tinha o apoio de Lula e do PT, enquanto o doutor e seu principal apoiador, Izaías, estavam mais para Bolsonaro.

Os fatores nacionais terminaram pesando na eleição municipal. A força da internet fez isso.

Mas as questões locais também importaram e muito. Do lado governista, o prefeito cometeu muitos erros. Um deles foi cantar vitória antes do tempo, afrontar a soberania popular e chegar a humilhar Sivaldo Albino, que fez uma campanha ética, limpa, com poucos recursos, porém compensando a pouca estrutura financeira com muita criatividade.

Na sua soberba o prefeito chegou ao ponto de escantear o deputado federal Fernando Rodolfo, que teve mais de 10 mil votos no município dois anos atrás.  

A família do prefeito eleito foi fundamental na campanha. Desde Jhony, que se elegeu vereador até a professora Sandra Albino, atuante na área de educação e nas mídias sociais. Todos os seus irmãos, sua esposa Lívia, o filho Kaio, estiveram juntos, unidos, dando força e assegurando a tranquilidade necessária para que o candidato mantivesse o equilíbrio em todos os momentos.

Silvino foi além de suas forças, foi vítima de fake news, teve sua vida política devassada e entraram até na vida pessoal. Mas ele não perdeu o bom senso em nenhum momento, mesmo quando inventaram que o petebista estava muito doente, sem forças sequer para participar de um debate de rádio.

Por sinal a ausência do doutor nos debates da Rádio Jornal e Marano lhe foram fatais. Uma eleição em Garanhuns é diferente de uma eleição nacional. Lula e Bolsonaro faltaram a debates na TV e isso só os ajudou. Aqui, a estratégia de Silvino em fugir ao confronto teve forte influência, ele perdeu muitos votos, sobretudo entre os jovens.

O vice do PTB na campanha, Haroldo Vicente, foi quase invisível. Não contribuiu com absolutamente nada. Não acrescentou um voto ao cabeça de chapa. O contrário de Pedro Veloso e Audálio Ramos, que ajudaram bastante Sivaldo e Zaqueu.

Silvino realmente esteve na frente das pesquisas. Chegou a ter 16 pontos de vantagem. Mas começou a derreter quando não foi a Rádio Jornal, quando confiou demais na máquina e principalmente ao achar que a eleição estava liquidada.

Não expôs de forma exacerbada o favoritismo, como Izaías, mas deixou se contaminar pelo "já ganhou". Em política e futebol acontecem coisas impossíveis.

Tivemos ainda a forte denúncia contra o prefeito no Ministério Público, feita por um ex-funcionário seu. Foi divulgada por Gidi Santos, por nós e viralizou na internet.  Uma coisa terrível, envolvendo toda família do gestor, que não foi fabricada pelos adversários e sim levada às autoridades por uma pessoa que trabalhou com Izaías Régis mais de 20 anos.

No rádio e nas redes sociais, a equipe comandada por Ronaldo César fez um bom trabalho.

Ronaldo sacrificou sua própria campanha de vereador para se entregar de corpo e alma ao projeto liderado por Sivaldo.

Marcos Cardoso, Vânia Costa e Igor Vilela, este último nas ruas, sentindo a pulsação das massas, foram peças importantes na batalha pela conquista de corações e mentes.

Sivaldo teve ao seu lado, ainda, dois ex-prefeitos, Ivo Amaral e Bartolomeu Quidute, que deram tudo de si pela vitória do PSB.

E ainda teve Rosa Quidute e Márcio Quirino, dois ex-vice-prefeitos, emprestando seus nomes respeitados ao candidato da mudança.

Todos esses citados se mobilizaram conversaram com os amigos, enviaram mensagens via WhatsApp, fizeram corpo a corpo e contribuíram com a virada que muitos julgaram impossível.

Embora não tenha assumido posições partidárias, o radialista Gláucio Costa foi outro personagem importante por abrir espaço, no seu programa de grande audiência, para o contraditório, mostrando deslizes praticados pelos agentes públicos do município.

Num jogo de paciência, Sivaldo Albino formou o time forte que o levou à vitória. Conseguiu que três candidatos à prefeitura - Luizinho Roldão,  Pedro Veloso e Givaldo Calado - desistissem do seus projetos para fortalecer o projeto de mudança.

Se a derrota é órfã, em Garanhuns ela pertence a Izaías. Ele precisa assumir o ônus dessa reviravolta. Tinha recebido um recado da população em 2018, na eleição de deputado e presidente, não fez autocrítica e ao cometer os mesmos erros naufragou e levou Silvino com ele.

Se a vitória tem muitos pais são esses que foram citados, personagens que fizeram história e que, aliados a mais de 22 mil eleitores promoveram a mudança que a cidade ansiava.

Três eleições são emblemáticas no município: a de Amílcar nos anos 60, a de Bartolomeu em 1992 e esta de Sivaldo neste dia 15 de novembro.

O novo prefeito tem tudo para fazer uma grande gestão. Com apoio do governador Paulo Câmara, dos deputados e senadores que o apoiaram, graças ao seu poder de articulação no Recife e em Brasília, poderá tirar Garanhuns da mesmice.

O recado foi claro: pavimentação de ruas não é suficiente. A população quer mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário