domingo, 24 de maio de 2020

ECONOMIA A PANDEMIA: O BRASIL ESTÁ À DERIVA, POR HENRIQUE FONTANA




Diante da queda prevista no PIB brasileiro de 4,7%, o Governo aponta como vilão o isolamento social. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a declarar que, antes da pandemia de coronavírus, o Brasil mostrava sinais de recuperação, quando, na verdade, nossa economia vinha estagnada com crescimento de apenas 1,1%  em 2019, resultante do absoluto fracasso do modelo vigente. Portanto, a pandemia agravou uma situação que já era muito ruim da economia brasileira.

Em vez de combater o vírus, Bolsonaro abriu guerra contra o isolamento social, única forma de deter a expansão acelerada da pandemia, ao conclamar os empresários a pressionarem o Supremo Tribunal Federal e os governos estaduais e municipais para relaxarem a quarentena.

Para desmascarar a insensatez dos falsos argumentos do Governo basta fazermos um raciocínio simples. Se dois meses atrás o governo tivesse adotado os protocolos sugeridos pela Organização Mundial de Saúde, como fizeram outros países – alguns, tardiamente – o Brasil estaria em outro patamar. Milhares de vidas teriam sido salvas e a retomada da economia estaria mais próxima. É só olhar para o que acontece no mundo.

O empobrecimento planetário decorrente da pandemia é uma realidade da qual não há como se afastar. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 9 das 11 principais economias do mundo sofrerão retração significativa. Nos países que souberam enfrentar os efeitos do coronavírus com sabedoria, através do isolamento social – em casos mais graves, do confinamento – e de ações concretas como testagem em massa e estruturas médicas adequadas, já é possível enxergar sinais de recuperação, combinando a defesa da saúde pública com a retomada econômica.

No Brasil, ao contrário, por causa do boicote liderado por aquele que, pelo cargo que ocupa, deveria ser o mais preocupado com o País e a saúde do seu povo, estamos diante do colapso. Os casos de contaminações e vítimas fatais cresce vertiginosamente e apontam para a triste e dramática realidade de que o Brasil terá a segunda maior mortalidade por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos.

Em vez de apresentar ao País um plano com base em dados científicos que pudesse reduzir o impacto da pandemia e apontar um caminho para a retomada econômica, Bolsonaro prefere desfilar sua fanfarronice irresponsavelmente, debochando do povo brasileiro, em atos cada vez mais minguados de seus apoiadores contra as instituições democráticas, e por meio de declarações apoiadas em fake news e informações deturpadas, ao mesmo tempo em que beira o charlatanismo ao indicar medicação sem qualquer respaldo científico, cujo uso indiscriminado tem produzido mais mortes. Há poucos dias, o Ministério da Saúde publicou uma orientação propondo uso da cloroquina. Não assinada por ninguém, ou seja, ninguém será responsabilizado pelos graves efeitos que ela poderá gerar.

O que o governo deveria estar fazendo, ao invés de boicotar o isolamento social, é acelerar um conjunto de medidas para proteger a economia brasileira, ampliar linhas de financiamento, adotar mecanismos  de proteção dos empregos e salários, como estão fazendo os países que enfrentam corretamente os efeitos da pandemia, prorrogar a renda mínima para proteger o tecido social brasileiro, lançar um programa robusto de investimentos públicos em programas com forte capacidade de geração de empregos, como habitação popular, saneamento e infraestrutura, entre outras coisas.

Além de boicotar o isolamento social, Bolsonaro não adota providências necessárias para proteger a economia. Em seu delírio ególatra e autocentrado, Bolsonaro enxerga o isolamento não como um imperativo necessário para combater a pandemia, mas como um complô armado pelas instituições com apoio da mídia com o objetivo, no fim das contas, de solapar o seu Governo. Ao minimizar os efeitos devastadores da Covid-19 e desdenhar as milhares de mortes que crescem a cada dia no país com o seu sinistro bordão “e daí?”, Bolsonaro demonstra que se afasta cada vez mais da responsabilidade que o cargo exige e torna cada vez mais necessário o seu afastamento, pelo bem do Brasil.

Henrique Fontana é deputado federal (PT-RS)

Fonte: Jornal GGN

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