domingo, 17 de maio de 2020

DOSSIÊ REÚNE TRAGÉDIAS DOS 500 DIAS COM BOLSONARO, POR GABRIEL PEDROZA E ERGON CUGLER





“Eu avisei”. 2 palavras que são proclamadas principalmente pelo campo progressista e democrático desde que Jair Messias Bolsonaro começou seu (des)governo em 2019. Bolsonaro, que não perde a chance de se fazer de Messias, também faz uso de uma célebre frase bíblica para justificar o obscurantismo e a confusão diante de suas ações – “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32). Ocorre, que diante dos primeiros 500 dias em posse da presidência, Bolsonaro tem provado que suas ações de nada diferem de seu histórico nas últimas décadas. Muito além do “eu avisei”, à luz dos fatos, nos cabe questionar, “e agora?”

15 de maio de 2020, são 500 dias com ele – ou melhor, #EleNão -, como presidente da República. Bolsonaro (agora sem partido) já passou por nove partidos em seus 28 anos como Deputado Federal, oscilando de acordo com seus interesses familiares. Diante do desastre em posse da Presidência, o “eu avisei” tem se tornado uma denúncia constante para os milhares de absurdos e, pior, ataques explícitos de Bolsonaro contra direitos fundamentais do povo brasileiro. Soma-se ao cenário, a radicalização de sua base mais fiel, com aumento de popularidade e polarização, tendo desprendimento diário de mais moderados conforme o radicalismo aumenta.

Conforme aliados ocasionais ou pessoas que se dizem traídas vão se desprendendo do bolsonarismo, o que fica é a contradição de que Bolsonaro implementa nada mais do que sempre prometeu. Isto é, aos que se arrependem do voto – e fazem bem, apesar de tarde -, ou não tiveram acesso ao seu histórico de promessas, ou não levaram a sério as denúncias que chegaram por todos os lados. Nesse sentido, este artigo reúne diversas falas ao longo do esvaziado mandato de Bolsonaro como Parlamentar e o resultado dessas falas – que para muitos soavam vazias -, agora em posse do Estado brasileiro.
Muito além do “eu avisei” é momento de explorar as contradições e fazer do arrependimento ao bolsonarismo, força motriz para que as denúncias que virão não sejam, mais uma vez, ignoradas. Até porque, Bolsonaro faz muito estrago, mas quando Bolsonaro passar – e há de passar -, o bolsonarismo, seguirá, sem dúvidas, disputando espaço enquanto movimento. Portanto, transformar o “e daí” da indiferença antipática do bolsonarismo em “e agora?” da união nacional propositiva e racional do povo, talvez seja um dos maiores desafios que tenhamos em frente.

Corrupção no Bolso

Antes da Presidência

Desde 1999 Bolsonaro já confessava em entrevista, sem o menor receio: “Eu sonego tudo que for possível”. Mais recente, em 2018, ao explicar a polêmica dos R$ 200 mil da JBS, admitiu que seu partido recebeu propina: “qual partido não recebe?” -, para além de manter funcionária fantasma paga com dinheiro público; e que, como “estava solteiro naquela época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente”.

Mamata e nepotismo

Bolsonaro, assim como tantos dos seus apoiadores e aliados, também bradaram ao longo desses anos que “acabou a mamata”. Os exemplos dado por esse governo constatam justamente o contrário. Em meados de 2019, Jair já dizia que o filho Eduardo poderia assumir a liderança do PSL (o que foi feito) ou até a embaixada dos EUA, ainda que a experiência declarada do “filho 03” era de ter “fritado hambúrgueres” no país (o que é impreciso, já que o restaurante no qual trabalhou sequer tem hambúrgueres no cardápio), além de seu inglês ser absolutamente incompatível com o cargo. Ainda em 2019, veio à público que entre 2015 e 2016, Bolsonaro empregou cinco funcionárias que nunca foram ao Congresso, porém com o salário em dia.

Extinção do Conselho de Combate à Corrupção

Em posse da Presidência, em junho de 2019, Bolsonaro extinguiu o Conselho da Transparência Pública e Combate à Corrupção (CTPCC), dentre quase 40 conselhos de fiscalização da administração pública.

Gastos no cartão coorporativo

Entre janeiro e março de 2020, as despesas do cartão corporativo da presidência dobraram em relação à média do mesmo período dos últimos 5 anos, superando inclusive os gastos dos governos Temer e Dilma. Os gastos podem ser acompanhados pelo Portal da Transparência.

Desprezo à Democracia

Antes da Presidência

Em 1999, já Deputado Federal, Bolsonaro afirmava que certamente daria um golpe no mesmo dia, caso fosse presidente “[…] Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, quando um dia nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil, começando com o FHC, não deixar para fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.”.

Em 2016, voltou a afirmar que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”, repetindo a mesma declaração proferida anos antes, em 2008, durante discussão com manifestantes em frente ao Clube Militar, no Rio de Janeiro. Ainda, durante a votação de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (2016), prestou homenagem ao torturador condenado, Coronel Carlos Ustra.

Mais recente (2017), exercitando a intolerância religiosa, Bolsonaro bradou em carro de som: “Deus acima de tudo. Não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude […] as minorias têm que se curvar para as maiorias” Em visita ao exército, ainda em 2017, Bolsonaro disse que sua “especialidade é matar”, mesmo que nunca tenha executado qualquer missão oficial com tal demanda. Dando continuidade à propagação da chacina, em campanha em Rio Branco (2018), disse “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”.

Ainda, uma semana antes de assumir a presidência (2018), Bolsonaro twitta a frase “Grande Dia”, logo após o ex-deputado Jean Wyllys anunciar que não retornaria ao Brasil para cumprir o seu terceiro mandato, por medo das ameaças que já vinha recebendo há anos.

Slogan com inspiração alemã

Em posse do Estado, o slogan escolhido para seu governo foi “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, tendo assombrosa semelhança com a popular frase da Alemanha Nazista  “Deutschland über alles”, ou “Alemanha acima de tudo”. A diferença seria uma pitada a mais de fundamentalismo religioso.

Sem sociedade civil

Em junho de 2019, Bolsonaro extinguiu quase 40 conselhos estratégicos de participação da sociedade civil, limitando a participação e acompanhamento de entidades e organizações diversas na elaboração de políticas públicas já implementadas. Houve ainda a expulsão da sociedade civil do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad).

Ataque ao presidente da OAB

Em julho de 2019 Bolsonaro ataca o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, provocando-o que, se “quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele”.

Envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson

Entre abril e maio de 2020, diante das interferências de Bolsonaro para troca da Polícia Federal, documentos passaram a reafirmar a relação da família Bolsonaro com o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes, seu motorista. Vale recordar que o vizinho de Bolsonaro, acusado de matar Marielle e Anderson, detinha um arsenal em sua casa.

Além do vizinho, existia também ligação com Adriano da Nóbrega, um ex-policial do Bope – homenageado por Jair e Flávio Bolsonaro. Ele foi considerado chefe um dos chefes do “Escritório do Crime” – uma milícia de matadores de aluguel do RJ – e teve um mandato de prisão expedido em Fevereiro de 2019, consequente de uma operação contra milícia no RJ. Foi encontrado e morto a tiros durante confronto policial na Bahia, onde estava escondido. Anderson era considerado uma peça chave tanto no Caso Queiroz quanto da morte de Marielle. há forte suspeita de queima de arquivo.

A dúvida permanece: Quem mandou matar Marielle Franco?

Abertamente contra a democracia

Em meio à pandemia, Bolsonaro participou de diversos atos e aglomerações entre março e maio de 2020 que continham faixas pelo fechamento do Congresso, do STF e pedindo o AI-5, com profissionais da imprensa violentamente agredidos. Ainda, durante o crescimento dos casos da covid-19, Bolsonaro recebeu Curió, símbolo de assassinatos na ditadura em maio de 2020.

Punição às críticas

Ainda em maio de 2020, a Escola Superior de Guerra (ESG) enviou um ofício ao Ministério da Defesa questionando a possibilidade de punir servidores que critiquem o presidente. No mesmo fim de semana, a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) critica, em post no twitter, a cobertura da mídia durante a pandemia, finalizando a postagem com “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”. Mais uma dentre as frases usadas pelo governo que remetem ao nazismo, dessa vez do slogan “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”, em alemão), inscrito na entrada dos campos de concentração.

Despreparo e Ingerência

Antes da Presidência

Quando Deputado Federal, durante 28 anos aprovou apenas dois projetos de lei. Sem qualquer compromisso técnico ou programático com a melhoria da qualidade de vida da população de seu estado, apresentou uma média de seis projetos por ano, ou um a  cada dois meses, ignorando saúde e educação. Como exemplo, Bolsonaro já quis batizar a faixa marítima do país como “Mar Médici” (2015), em homenagem ao Ditador e, ainda, exigir todos cidadãos a colocassem a mão direita no peito durante o Hino Nacional (1998).

Durante sua campanha (2018), sem planejamento estratégico para governar o país, Bolsonaro apostou na onda (ou melhor, tsunami) anti-petista para ganhar popularidade, como um punhado de outros deputados, prefeitos e governadores (como esquecer o clássico slogan de João Dória, o “BolsoDória”, que era contra “tudo que é contra a esquerda”). Para deixar evidente sua falta de projeto para o país, Bolsonaro sequer participou dos debates nas eleições de 2018.

Sem palavras

Em janeiro de 2019, no Fórum Econômico Mundial de Davos, Bolsonaro usou apenas 6 dos 45 minutos previstos, com fala rasa e trazendo poucos elementos estratégicos e deixando os investidores internacionais sem clareza de seu projeto.

Sem dobrar a meta

Segundo estudo organizado pela Agência Lupa, Bolsonaro concluiu menos da metade das metas prometidas aos primeiros 100 dias de mandato (abril de 2019).

Distorção da Realidade e Narrativa

Antes da Presidência

Durante a campanha eleitoral (2018) não faltaram denúncias da rede de propagação de notícias falsas (fake news) organizada pela campanha de Jair Bolsonaro. Tais denúncias levaram a investigação a identificar a família Bolsonaro como articuladora do esquema criminoso de fake news.

Golden shower

Em março de 2019, o chefe de Estado se voltou para difamar o carnaval, compartilhando vídeo obsceno e perguntando em seu twitter “o que é Golden Shower?”.

Brasil sem fome?

Mesmo com 13,5 brasileiros em extrema pobreza (2019), em julho de 2019, Bolsonaro afirmou que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora passar fome, não. Você não vê gente pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países por aí pelo mundo.”

Gabinete do ódio

Em março de 2020, estudo apontou que mais da metade do apoio nas redes de Bolsonaro é forjado por robôs. Ainda, em abril de 2020, após meses de investigação da CPI das Fake News, a relatora apontou que “Bolsonaro age em conjunto com o gabinete do ódio”. Ainda, que “pula de galho em galho” em busca de um novo inimigo para manter a “adrenalina” de seu “grupo de cachorros loucos”.

Ataque à imprensa

Após inúmeros ataques à imprensa, buscando desmoralizar o papel do jornalismo, em março de 2020, Bolsonaro colocou um humorista para conversar com jornalistas sobre o desaceleramento da economia brasileira. Isso após “dar banana” para jornalistas pela segunda vez em duas semanas – A primeira vez foi após reclamar da repercussão de sua fala afirmando que “pessoa com HIV é despesa para todo o Brasil“, antes de ir à um evento evangélico. Ainda, em maio de 2020, Bolsonaro mandou jornalista calar a boca.

Ranking de declarações falsas

Ainda, em 500 dias em posse da Presidência, Bolsonaro acumulou 1023 declarações falsas ou distorcidas, segundo mapeamento organizado pela Aos Fatos.

Machismo e LGBTFobia

Antes da Presidência

Parte da fama de Bolsonaro surgiu em 2003, após o então parlamentar chamar a Deputado Maria do Rosário (PT) de “vagabunda”, afirmando “não te estupro porque você não merece”. Mesmo em batalha judicial – e ordenado, em 2019, a pagar R$10 mil por danos morais – Bolsonaro não hesitou em dizer  “por isso o cara paga menos para a mulher [porque ela engravida]” (2014) reafirmando em entrevista no programa “Superpop”, em 2016 que “não empregaria [mulheres e homens] com o mesmo salário”.

Em entrevista à revista Playboy em 2011 Bolsonaro afirmou que prefere um filho morto a um herdeiro gay e diz que ser vizinho de um casal homossexual é motivo de desvalorização de imóvel. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.”, pois “ter filho gay é falta de porrada”. Ainda, em ritmo de campanha (2018), reclama que casais homossexuais estariam em busca de “privilégios” e afirma: “Eu tenho imunidade para dizer que sou homofóbico sim, com muito orgulho […] eu prefiro ter um filho viciado do que um filho homossexual”.

“Se quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade”

Já em posse da Presidência, em abril de 2019, Bolsonaro comentou que  “O Brasil não pode ser um País do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias.”. Mas que “Se quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade” – reforçando seu machismo ao validar a exploração de mulheres e o turismo sexual, ainda fazendo associação entre homosexualidade e imoralidade.

Extinção Conselho de Combate à Discriminação LGBT+

Dentre outros conselhos de fiscalização e participação da sociedade civil, em junho de 2019, Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT (CNCD/LGBT).

“O Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer”

Pouco tempo depois (julho de 2019), incapaz de estabelecer reflexão profunda sobre o meio ambiente, Bolsonaro apostou no machismo ao reclamar sobre a demarcação de terras indígenas e preservação ambiental, afirmando que “o Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer” e, portanto, melhor entregar às oportunidades.

Financiamento zero para comunidade LGBT+

Com edital que havia selecionado produções para TV pública sobre diversidade de gênero e sexualidade, em agosto de 2019 críticas de Bolsonaro levaram à proibição do financiamento para filmes ligados às temáticas LGBTs e, em janeiro de 2020 Bolsonaro orientou Regina Duarte a não financiar a pauta LGBT na Cultura, ainda criou uma “curadoria” afirmando “pode fazer, mas não com dinheiro público”, como se a população LGBT+ não compusesse a sociedade brasileira.

Racismo

Antes da Presidência

Em entrevista ao programa CQC, da Band, em 2011, Bolsonaro afirmou que “não entraria num avião pilotado por um cotista, nem aceitaria ser operado por um médico cotista”. Ainda na mesma entrevista, é questionado pela cantora Preta Gil sobre como reagiria se um de seus filhos namorasse uma negra, respondendo: “não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados” Em 2017, no Clube Hebraica (2017), disse “Eu fui num quilombo em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas, não fazem nada. Eu acho que nem pra procriador serve mais”.

Ainda, em mais de 80 páginas do plano de governo do então candidato (2018), Bolsonaro, a equipe dele não cita em nenhum momento as palavras “negro”, “negra”, “indígena”, “etnia” e “raça”, muito menos existem propostas de políticas de ações afirmativas.

Extermínio da população negra

Enquanto em maio de 2019, Bolsonaro afirmava que “racismo é algo raro no Brasil”, em outubro de 2019, a ONG Educafro denunciou na ONU o aumento das mortes envolvendo a população negra e o percentual de 75,5% do total dos homicídios no Brasil durante a gestão de Bolsonaro.

Sem consciência
Após a destruição de uma placa na Câmara dos Deputados em alusão à violência contra a população afrodescendente em novembro de 2019, Bolsonaro optou por ignorar tanto a destruição da placa, quanto o dia da consciência negra – dando continuidade à política de omissão do Estado implementada abertamente desde o início de seu mandato.

Desprezo ao Meio Ambiente

Antes da Presidência

Após discussão com indígena em Audiência na Câmara (2008), disse que “Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens”.

Fogo na Amazônia

Em março de 2019, o céu em cidades do Sudeste escureceu durante o dia, isso porque as chamas na Amazônia já se alastravam há quase duas semanas. Dessa vez, Bolsonaro decidiu jogar a culpa para o ator Leonardo DiCaprio e a ONG WWF; Ainda, quando a crise foi denunciada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Bolsonaro respondeu com a exoneração de Ricardo Galvão, presidente do Instituto, além de rejeitar ajuda de US$ 20 milhões do G7 para a Amazônia, como uma resposta birrenta às críticas feitas pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Bolsonaro disse que só aceitaria o dinheiro se Macron pedisse desculpas, demonstrando novamente que o seu imenso ego vaidoso está, lamentavelmente, acima do bem estar da população. Houve recuo dessa condição, horas depois, declarado pelo porta-voz do governo. Vale lembrar que, nesse meio tempo, Bolsonaro endossou uma montagem sexista feita por um de seus seguidores, zombando da aparência de Brigitte Macron, primeira dama da França.

Meio ambiente só para veganos

Em julho de 2019, Bolsonaro já afirmou que “[A questão ambiental importa] só aos veganos que comem só vegetais.”.

Vazamento de óleo no Nordeste

Em outubro de 2019, o Governo Bolsonaro demorou mais de um mês para iniciar investigação do vazamento de óleo no Nordeste, colocando a culpa na Greenpeace, insinuando que a ONG só atrapalha e de que o vazamento teria sido um “ato terrorista”. Enquanto isso, centenas de pessoas se mobilizaram, colocando a saúde em risco,  para limpar voluntariamente as praias.

Grilagem liberada

Mais recente, em dezembro de 2019, apresentou a Medida Provisória 910/2019, prevendo anistia ao crime de invasões de terras públicas entre 2011 e 2018 e beneficiando principalmente a prática de grilagem e os grandes produtores, precarizando ainda mais as condições da população indígena e tradicional, além dos produtores familiares. A tragédia denunciada por diversas organizações, conta com estudo do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), detalhando didaticamente suas implicações.

Uso Político da Pandemia

“É só um resfriadinho”

Em março de 2020, enquanto Bolsonaro chamava a pandemia de “fantasia propagada pela mídia”, pesquisadores da UFMG apontavam o aumento no nível de populismo do presidente com sua convocação de manifestações. Ainda, estudo realizado por economistas da Faculdade Getúlio Vargas e da Universidade de Cambridge aponta relação direta de causa e efeito entre as declarações do presidente contrariando recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o não cumprimento do isolamento social pela população. Entre março e maio de 2020, da “gripezinha” ao “e daí?”, as frases de Bolsonaro foram se acumulando enquanto o vírus se alastrava pelo país, com diversos levantamentos denunciando a ingerência diante da crise.

Sem ONG, tá ok?

A própria Fundação Nacional do Índio (Funai) serviu de recente instrumento para uso político da pandemia. Mesmo com, pelo menos, 139 indígenas confirmados com covid-19 e oito mortos (maio de 2019), o texto “Os Fatos”, publicado no site oficial da Funai argumentou uma “complacência e participação de ONGs e grupos religiosos” ligados a uma “matriz marxista” na elaboração de uma política indigenista que se restringiu ao “assistencialismo subserviente e ao paternalismo explícito”. Ainda, que a eleição de Bolsonaro representou uma “ruptura” às políticas públicas “socialistas” que vinham sendo implantadas por governos do PT.

Fome tá ok?

Com a desastrosa implementação da Medida Provisória (MP) 944/2020 (abril de 2020), a qual prevê o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese), da estimativa de 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de trabalhadores que teriam acesso à linha de crédito, apenas 19,3 mil empresas (1,3%) e 304 mil trabalhadores (2,5%) conseguiram garantir a manutenção do salário através do programa. Muito além da retórica, Bolsonaro parece apostar na omissão como estratégia para postergar o auxílio aos trabalhadores e testar a fome da população, jogando a culpa na burocracia para ver quem volta à postos, mesmo com a pandemia acumulando mortes.

Cabelo tá ok?

Enquanto o Brasil se aproximava da marca de 10.000 mortes oficiais por coronavírus (maio de 2020), o presidente ironizava que faria um churrasco de 3.000 pessoas no Palácio da Alvorada. Bolsonaro justificou que o churrasco era “fake”, mas aproveitou a data para andar de moto aquática acompanhado de um segurança, referindo-se novamente ao cenário pandêmico de “neurose”. Dois dias depois (11), o presidente declarou, durante uma dos seus pronunciamentos na esplanada, que ele ordenou, por meio de decreto, que academias, salões de beleza, cabeleireiros e barbearias fossem incluídos como serviços essenciais. O Ministro da Saúde, Nelson Teich, só ficou sabendo da mudança por meio de jornalistas durante coletiva de imprensa – visivelmente confuso. Enquanto isso, a demanda por testes, respiradores e leitos torna-se cada vez mais crítica.

Fama mundial, tá ok!

Enquanto ainda há quem diga que a mídia brasileira é parcial ao denunciar as arbitrariedades do bolsonarismo, entre março e maio de 2020, centenas de jornais ao redor do mundo noticiaram a irresponsabilidade de Bolsonaro diante da pandemia. Para a BBC, “Enquanto o mundo tenta desesperadamente combater a pandemia de coronavírus, o presidente do Brasil está fazendo o possível para desacreditá-la”, na mesma linha, The New York Times aponta que “O presidente Jair Bolsonaro, que chamou o vírus de ‘uma gripezinha’, é o único ‘grande’ líder mundial que continua questionando os méritos das medidas de bloqueio para combater a pandemia”.

Soma-se ao alerta internacional os jornais The GuardianThe EconomistWall Street JournalForbesBusiness InderThe Japan TimesThe WireThe Time of IndiaThe Chicago TribuneThe IndependentThe Asahi ShimbunAl JazeeraThe Sydney Morning HeraldDaily HeraldJacobin MagazineTIME e outros – todos ao tom de, “A atitude imprudente e irresponsável do líder do maior país da América do Sul ameaça causar inúmeras mortes” (El País) e “Bolsonaro é o líder negacionista mundial do coronavirus” (Washington Post).

Bolsonaro acumula 30 anos na vida política, com histórico marcado pelo machismo, racismo, LGBTfobia, discurso de ódio, desprezo aos indígenas e quilombolas, apologia ao crime, homenagens à Ustra e Ditadura militar, sugestão da aprovação de uma nova AI-5, desvio de verba e nacionalismo – apesar de bater continência para a bandeira dos EUA. Seu discurso se mantém odioso após a eleição e, pior, autoriza àqueles que pensam como ele a colocarem suas ideologias genocidas em prática. Nasce, então, o bolsonarismo. Aliás, nasce, não. Já existia, apesar de disperso. Mas hoje, a ideologia encontra uma figura que a abarcasse, adotando o sobrenome de Bolsonaro como expressão de um conjunto de ideais e valores que desprezam a democracia e exercitam o obscurantismo como instrumento de imposição política.

Apesar de prometer uma “nova política”, o bolsonarismo tem se mostrado cada vez mais dependente da polarização constante para retroalimentar sua base mais fiel. Como faz isso? Propagando declarações falsas ou distorcidas (1023, segundo mapeamento que mencionamos), instituindo o Gabinete do Ódio e tendo a disposição um exército de robôs para dar volume e engajamento para sua narrativa. Lembre que empresários bancaram campanha milionária pelo whatsapp anti-PT/Pró-Bolsonaro em 2018. Dentre esses, o Luciano Hang, o “Véio da Havan” (bilionário que possui dívida de R$168 milhões à Receita Federal) e o MBL, acusado com frequência por disseminar fake news (agora arrependidos, somando-se aos pedidos de impeachment).

No entanto, a primeira grande queda de popularidade ocorreu nas últimas semanas, com a insistente postura negacionista em relação à pandemia da covid-19, além da tentativa de mudar diretoria da Polícia Federal, indicando um amigo de família, o delegado Alexandre Ramagem e resultando no pedido de demissão do, agora, ex-Ministro da Justiça Sérgio Moro que, após um longo período de silêncio, concretiza seu distanciamento do governo, construindo sua imagem como uma alternativa “moderada” da direita. Fica claro que a mudança visa salvar seus amigos e filhos da investigação sobre o rede de Fake News arquitetada pelo Gabinete do Ódio.

Após suspensão da nomeação de Ramagem pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, por entender que houve desvio de finalidade na indicação, Bolsonaro manobra e nomeia o também delegado Rolando Alexandre de Souza, considerado braço direito de Alexandre Ramagem. Quem entra no lugar do Moro no Ministério da Justiça? O advogado e pastor André Mendonça, outro amigo próximo da família. Esse foi o maior absurdo do governo? Dificilmente. Foi a gota d’água para muitos? Foi, mas não deveria ser. O que é uma gota d’água num balde que já estava transbordando desde o início?

Em posse do Estado brasileiro, Bolsonaro ainda aproximou figuras caricatas para a composição de seus ministérios. Para além de suas ações, o despreparo técnico e a distorção da realidade tem conduzido pastas estratégicas para promoção de políticas públicas. Contraditórios, sem experiência e acusados – diante do absurdo -, quase sempre de estarem criando cortina de fumaça, seus ministros e articuladores atuam como extensão e reflexo fiel da narrativa bolsonarista. Alguns destacam-se mais que outros: raramente de forma positiva.

Fonte: Jornal GGN

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