Através do uso da tecnologia, pesquisadores conseguiram
reconstituir a face de uma índia que viveu há 2 mil anos no município de Brejo
da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco, a partir do crânio dela. A
indígena, que pertenceu a um grupo nômade e tinha idade entre 15 e 18 anos, é
considerada a parente mais antiga dos pernambucanos.
O rosto da jovem índia foi reconstituído por Cícero
Moraes, um 3D designer do município de Sinop, no Mato Grosso.
“O processo de reconstrução facial forense inicia a
partir do momento que o especialista faz um levantamento a partir do crânio, do
sexo, da faixa etária e da ancestralidade do indivíduo a ser reconstruído.
Posteriormente, neste caso, foi feita uma série de fotografias no crânio. Essas
fotos foram enviadas para um algoritmo computacional que converteu a sequência
em um objeto 3D compatível com o crânio”, explicou.
Com o crânio em 3D, programas de computador definiram a
espessura da pele e a posição dos músculos. Projeções desenharam o nariz, os
lábios, a posição das orelhas. Pelo processo de escultura digital, o rosto foi
modelado e ganhou acabamento.
O rosto da índia é o segundo a ser conhecido. O
primeiro, também revelado pela tecnologia, foi o de um flautista, em 2018. Ao
lado do esqueleto, os pesquisadores encontraram uma flauta feita de um osso
humano de 33 centímetros, a tíbia.
Ao todo, 83 esqueletos humanos foram descobertos entre
1982 e 1987, em um cemitério instalado na Furna do Estrago, uma área protegida
que fica debaixo de uma rocha, em Brejo da Madre de Deus.
O especialista responsável pela reconstrução do rosto
dos dois índios ensina o passo a passo da técnica para quem quiser aprender.
“Nós disponibilizamos não apenas a técnica, mas os softwares utilizados para
fazer esse processo. Todos são gratuitos e de código aberto”, disse Cícero.
O museu que abriga os dois ancestrais é o de
Arqueologia e Ciências Naturais da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap),
que está fechado por causa da pandemia do novo
coronavírus, sem data para reabrir. Segundo Roberta Pinto,
coordenadora do museu, eles pertenciam a um grupo que tinha algumas
características diferentes de outros povos indígenas do continente americano.
Essa população se diferencia em relação às proporções
do corpo. Em geral, as populações dos antigos das Américas chegam em torno de
1,60 m [de altura]. Essa população é um pouco mais alta do que isso. As
proporções da cabeça também são diferentes, e essa população apresenta
anomalias genéticas relacionadas ao endocruzamento, ou seja, parentes se
relacionando”, disse.
Para os responsáveis pelo museu, localizado no Recife,
dar uma identidade aos achados de tanto tempo tem uma importância fundamental.
“A gente precisa conhecer, inclusive, para se reconhecer e, a partir daí,
desenvolver afeto e desenvolver a preservação. Ela é uma pessoa como nós e não
um resto de ossos”, declarou Sérgio Almeida, assessor cultural do museu.
Fonte:
G1 Pernambuco