Diante da queda prevista no PIB brasileiro de 4,7%, o
Governo aponta como vilão o isolamento social. O ministro da Economia, Paulo
Guedes, chegou a declarar que, antes da pandemia de coronavírus, o Brasil
mostrava sinais de recuperação, quando, na verdade, nossa economia vinha
estagnada com crescimento de apenas 1,1% em 2019, resultante do absoluto
fracasso do modelo vigente. Portanto, a pandemia agravou uma situação que já
era muito ruim da economia brasileira.
Em vez de combater o vírus, Bolsonaro abriu guerra
contra o isolamento social, única forma de deter a expansão acelerada da
pandemia, ao conclamar os empresários a pressionarem o Supremo Tribunal Federal
e os governos estaduais e municipais para relaxarem a quarentena.
Para desmascarar a insensatez dos falsos argumentos do
Governo basta fazermos um raciocínio simples. Se dois meses atrás o governo
tivesse adotado os protocolos sugeridos pela Organização Mundial de Saúde, como
fizeram outros países – alguns, tardiamente – o Brasil estaria em outro
patamar. Milhares de vidas teriam sido salvas e a retomada da economia estaria
mais próxima. É só olhar para o que acontece no mundo.
O empobrecimento planetário decorrente da pandemia é
uma realidade da qual não há como se afastar. Segundo a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 9 das 11 principais economias do
mundo sofrerão retração significativa. Nos países que souberam enfrentar os
efeitos do coronavírus com sabedoria, através do isolamento social – em casos
mais graves, do confinamento – e de ações concretas como testagem em massa e
estruturas médicas adequadas, já é possível enxergar sinais de recuperação,
combinando a defesa da saúde pública com a retomada econômica.
No Brasil, ao contrário, por causa do boicote liderado
por aquele que, pelo cargo que ocupa, deveria ser o mais preocupado com o País
e a saúde do seu povo, estamos diante do colapso. Os casos de contaminações e
vítimas fatais cresce vertiginosamente e apontam para a triste e dramática
realidade de que o Brasil terá a segunda maior mortalidade por Covid-19, atrás
apenas dos Estados Unidos.
Em vez de apresentar ao País um plano com base em dados
científicos que pudesse reduzir o impacto da pandemia e apontar um caminho para
a retomada econômica, Bolsonaro prefere desfilar sua fanfarronice
irresponsavelmente, debochando do povo brasileiro, em atos cada vez mais
minguados de seus apoiadores contra as instituições democráticas, e por meio de
declarações apoiadas em fake news e informações deturpadas, ao mesmo tempo em
que beira o charlatanismo ao indicar medicação sem qualquer respaldo
científico, cujo uso indiscriminado tem produzido mais mortes. Há poucos dias,
o Ministério da Saúde publicou uma orientação propondo uso da cloroquina. Não
assinada por ninguém, ou seja, ninguém será responsabilizado pelos graves
efeitos que ela poderá gerar.
O que o governo deveria estar fazendo, ao invés de
boicotar o isolamento social, é acelerar um conjunto de medidas para proteger a
economia brasileira, ampliar linhas de financiamento, adotar mecanismos
de proteção dos empregos e salários, como estão fazendo os países que
enfrentam corretamente os efeitos da pandemia, prorrogar a renda mínima para
proteger o tecido social brasileiro, lançar um programa robusto de
investimentos públicos em programas com forte capacidade de geração de
empregos, como habitação popular, saneamento e infraestrutura, entre outras
coisas.
Além de boicotar o isolamento social, Bolsonaro não
adota providências necessárias para proteger a economia. Em seu delírio
ególatra e autocentrado, Bolsonaro enxerga o isolamento não como um imperativo
necessário para combater a pandemia, mas como um complô armado pelas
instituições com apoio da mídia com o objetivo, no fim das contas, de solapar o
seu Governo. Ao minimizar os efeitos devastadores da Covid-19 e desdenhar as
milhares de mortes que crescem a cada dia no país com o seu sinistro bordão “e
daí?”, Bolsonaro demonstra que se afasta cada vez mais da responsabilidade que
o cargo exige e torna cada vez mais necessário o seu afastamento, pelo bem do
Brasil.
Henrique
Fontana é deputado federal (PT-RS)
Fonte:
Jornal GGN