sexta-feira, 17 de abril de 2020

OBSERVAÇÕES METODOLÓGICAS SOBRE O FORDISMO FUNERÁRIO BOLSONARIANO, POR FÁBIO DE OLIVEIRA RIBEIRO




Aqui mesmo no GGN esbocei quais poderiam ser os reflexos da pandemia na arte. Antes disso havia me aproximado desse episódio à luz da historiografia da morte. Volto ao assunto por causa da evidente obsessão mórbida do desgoverno Bolsonaro.
O presidente do BC disse que reduzir a quantidade de mortos prejudicará a economia. 

Bolsonaro quer interromper o isolamento social para garantir uma elevada taxa de mortalidade. Ao invés de construir Hospitais de Campanha, o Exército sonda a capacidade dos cemitérios. Adepto da medicina nazista, o novo Ministro da Saúde afirmou que os adolescentes têm mais direito a vida do que os idosos como se pudesse abrir mão das vidas de uma parcela da população.

Em 17 de abril de 2016 a Câmara dos Deputados aprovou o Impeachment de Dilma Rousseff. Esse pode ser considerado o marco inicial do estado de exceção em que vivemos. Michel Temer rapidamente desmantelou todos os programas sociais esvaziando os princípios civilizatórios da Constituição Cidadã. Eleito com o apoio do comando do Exército, Bolsonaro transformou a exceção em regra.

A intenção do mito de transformar o Brasil numa terra arrasada é evidente. Ele facilitou incêndios na Amazônia, liberou totalmente o uso de pesticidas, puniu quem fiscaliza crimes ambientais, instigou a violência homicida no campo contra índios, quilombolas e sem-terras, ameaçou entrar em guerra com a Venezuela e abandonou o nordeste à própria sorte quando as praias nordestinas começaram a ser poluídas por petróleo. A comitiva presidencial trouxe o COVID-19 dos EUA para Brasil e Bolsonaro faz questão de sair para contaminar a população brasiliense.

O programa de governo desse regime de exceção que mutilou totalmente a Constituição Cidadã pode muito bem ser resumido através do título de um filme norte-americano de 1954: Meu ofício é matar. Bolsonaro não quer salvar a economia. O que ele quer fazer é utilizar a pandemia para matar a maior quantidade de pessoas que ele considera imprestáveis, desprezíveis e descartáveis.

“There are two quite dissimilar methods of manufacture, the choise of which is determined by the nature of the goods. One is the continuous process, where the product goes along in a straight line, and various operations on it are performed and the product comes out at the further end of the building ready for shipment. This straight line is not necessarily a physical line and it may have subdivisions or it may have tributaries…

The other principal method is the intermittent, or assembly, method. In this, the product is made part by part, or unit by unit, and finally brought together in a completed whole. Some of the parts may be made and stored for a long time; some may be especially for the particular unit that is to be sold. A notable example of this kind of manufacture is the engine lathe.” (Production Organization, by E.H.Fish, International Textbook Company, Scranton- PA, USA, 1928, p. 30/31)

TRADUÇÃO

“Existem dois métodos de fabricação bastante diferentes, cuja escolha é determinada pela natureza dos produtos. Um é o processo contínuo, em que o produto segue em linha reta, e várias operações nele são realizadas, e o produto sai no final do edifício, pronto para o embarque. Esta linha reta não é necessariamente uma linha física e pode ter subdivisões ou tributários…

O outro método principal é o método intermitente ou de montagem. Neste, o produto é feito parte por parte, ou unidade por unidade, e finalmente reunido em um todo concluído. Algumas partes podem ser fabricadas e armazenadas por um longo tempo; algumas podem ser especialmente para a unidade específica a ser vendida. Um exemplo notável desse tipo de fabricação é o torno mecânico. ”

O fordismo funerário nazista se inspirou no primeiro desses métodos. Os judeus eram reunidos e transportados para os Campos de Concentração. No local eles eram identificados e passavam por uma triagem. Alguns eram imediatamente “processados”, outros eram estocados para utilização como mão de obra durante algum tempo e seriam “processados” quando estivessem suficientemente desgastados. O Campo de Concentração funcionava exatamente como uma fábrica. As vítimas eram “processadas” de maneira racional, impessoal e eficiente. O produto final do processo era a fumaça expelida pelas chaminés e as cinzas removidas dos fornos de cremação.

Esse método não pode ser repetido pelo fordismo funerário bolsonarista. Apesar das expressões claramente nazistas utilizadas por membros do governo (alguns vão morrer, os adolescentes têm mais direito de viver, reduzir a quantidade de mortos prejudicará a economia, etc…) o método de produção de cadáveres será improvisado. Ao invés de “processar” suas vítimas, Bolsonaro quer apenas deixá-las morrer fazendo tudo o que for necessário para não salvá-las.

O nazismo construiu fábricas para produzir cadáveres em escala industrial e para descartá-los rapidamente com a maior eficiência possível. A linha de produção de um Campo de Concentração foi claramente concebida sob influência de obras como Production Organization. O bolsonarismo não pode agir diretamente sobre os corpos das pessoas consideradas imprestáveis, desprezíveis e descartáveis. Em razão disso ele concentra todos seus esforços no extermínio dos direitos outorgados às vítimas pela Constituição Cidadã e pela Legislação Internacional e na criação de um Estado constitucional paradoxalmente desobrigado de cumprir suas obrigações constitucionais.

Bolsonaro não pode ser comparado a Adolf Hitler. Ele não tem a estatura elevada de um ditador e sim o tamanho diminuto de um comandante de Campo de Concentração. Mas o mal que o mito quer colocar em prática não pode ser considerado banal.

O conceito elaborado por Hannah Arendt não se aplica ao caso brasileiro, pois o mito não é e não pode ser um adepto da metodologia burocrática, da frieza racional e da impessoalidade administrativa que orientou a “solução final da questão judaica”. As três coisas que caracterizam o fordismo funerário bolsonariano são improvisação irracional, o sadismo incontido e o ódio manifesto contra índios, quilombolas, sem-terras, petistas, gays, etc… Bolsonaro se parece mais com Amon Leopold Göth do que com Adolf Eichmann.

Até o presente momento a sociedade brasileira está conseguindo resistir ao genocídio. Todavia, tudo indica que ele irá ocorrer de uma maneira ou de outra pois o Estado brasileiro está sendo organizado para enterrar as vítimas da pandemia e não para salvar os doentes. As rachaduras no Sistema Justiça estão se expandindo. Bolsonaro já conta com o apoio incondicional do Procurador Geral da República. Alguns ministros do STF estão na algibeira dele. A aposentadoria de Celso de Mello e a chegada de Luiz Fux à presidência da Corte ocorrerão exatamente no momento em que começará para valer o debate jurídico acerca da responsabilidade criminal por genocídio do presidente e dos ministros dele.

Se a Câmara não afastar imediatamente Bolsonaro da presidência ele conseguirá realizar seu sonho. No auge da pandemia o Brasil inteiro será transformado num imenso Campo de Concentração em que as pessoas doentes são abandonadas para morrer em razão do Estado não agir para salvá-las e sim para suprimir os direitos e garantias individuais delas.

A imprensa comemorou a última derrota que Bolsonaro sofreu no STF. O otimismo dos jornalistas me parece infundado. O mito é apoiado por alguns governadores e por centenas de prefeitos. As restrições impostas à circulação dos cidadãos pela maioria dos governadores e prefeitos não surtirão efeito se uma parcela da população brasileira puder se locomover espalhando livremente o COVID-19 pelo território nacional. A flexibilização ou eliminação da quarentena em alguns municípios e estados poderá ter um efeito devastador a curto e a longo prazo como desejam os arquitetos financeiros, jurídicos e políticos do genocídio em curso.

Fonte: Jornal GGN

FEIRA LIVRE DA CIDADE DE CAPOEIRAS SERÁ RESTRITA A FEIRA DE QUEIJOS E AO AÇOUGUE A PARTIR DESTA SEXTA-FEIRA, 17




A tradicional feira livre da cidade de Capoeiras, no agreste de Pernambuco, devido a pandemia do novo coronavírus ocorrerá com novas restrições a partir desta sexta-feira, 17/04/2020. A prefeitura por meio das Secretarias de Agricultura e, de Saúde informam que só as feiras de queijos e o Açougue Municipal estão autorizados a funcionar a partir desta sexta-feira (17); a comercialização de frutas e verduras e o Mercado de Cereais estão proibidos de funcionar.

A prefeitura informou ainda que esta determinação é por tempo indeterminado e que posteriormente anunciará a normatização da feira.

Fonte: Blog Capoeiras

MPPE: PROMOTOR ALEXANDRE BEZERRA TESTOU POSITIVO PARA COVID-19




O promotor Alexandre Bezerra, atual corregedor geral do MPPE, testou positivo para o novo coronavírus. Ele está em isolamento domiciliar em Garanhuns (PE) onde reside e trabalhou por vários anos. Bezerra relevou estar com a doença através de um vídeo exibido em suas redes sociais. Ainda segundo o promotor, os seus familiares também fizeram o teste para covid-19, mas não têm a doença.

Garanhuns – PE.

Em Nota oficial divulgada nesta quarta-feira, 15 de abril de 2020. A Secretaria Municipal de Saúde, através da Vigilância Epidemiológica, informa que foi confirmado, nesta quarta-feira (15), mais um caso de Covid-19 em Garanhuns, após resultado de análise laboratorial emitido pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE).

Trata-se de um homem de 79 anos, notificado por hospital da rede pública estadual, onde permanece internado, com quadro estável. Desde a última semana o paciente apresenta sintomas de febre, tosse, dor de garganta, dispneia, e desconforto respiratório; sendo notificado com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

Os familiares e pessoas que tiveram contato direto com o caso confirmado, estão sendo monitorados e orientados, por meio das equipes de Vigilância Epidemiológica e Atenção Básica do município, com o objetivo de que cumpram o período de isolamento domiciliar.

A Secretaria de Saúde reforça a importância de que a população permaneça em casa. Redobrando os cuidados com higiene, e cumprindo a quarentena, de acordo com as orientações das autoridades sanitárias.

Fonte: V&C Garanhuns

quinta-feira, 16 de abril de 2020

JORNALISMO EM TEMPOS DE COVID-19: ACERTOS, DESAFIOS E UMA CHANCE DE RECUPERAR A CREDIBILIDADE PERDIDA, POR ANDRESSA KIKUTI




Eis que, bem numa semana de subida da curva de contágio pela epidemia da Covid-19 no Brasil, com o número de mortos indo para a casa dos milhares, o calendário nos lembrou de duas datas comemorativas: o Dia Mundial da Saúde e o Dia do Jornalista. 

Eram ambas em 07 de abril – também o primeiro dia da lua cheia, que para a astrologia é uma fase de agitação e transbordamento das emoções (para melhor ou para pior)… Simbólico, não? Tanto profissionais da saúde quanto jornalistas estão passando por momentos de muita tensão e lutando, cada um a seu modo, contra a pandemia e suas consequências. O papel de jornalistas é bem distinto do de médicos e enfermeiros, mas também é importante, afinal é impossível viver sem informação confiável e contextualizada com o mundo virando de pernas para o ar.

A pandemia da Covid-19 é um cenário novo, e não há fórmulas prontas para lidar com ela. Há muitas tentativas, alguns erros e acertos, e muitos desafios, entre os quais podemos citar o risco de contaminação pelo vírus para as equipes que trabalham na rua, a dificuldade em conciliar atividades domésticas ao teletrabalho para quem fica em casa, a ausência de contato físico com as fontes, o aparato técnico limitado, o agravamento da crise financeira dos media e a urgência de reportar com qualidade acontecimentos que poderão transformar profundamente nossa vida em sociedade. 

Como aponta a pesquisadora Márcia Franz Amaral em entrevista para o objETHOS, nenhum profissional se torna especialista no coronavírus de um dia para o outro, e nenhum jornal consegue criar uma estrutura de cobertura de uma hora para a outra. “A cobertura compassada com o tempo cronológico do desastre é fundamentalmente anestesiante”, afirma ela. Fato é que, desde que as medidas de isolamento social começaram a ser implementadas no Brasil, todos os olhos dos noticiários se voltaram quase unicamente ao tema da pandemia.

Do limite aos caminhos da cobertura diária da TV

A cobertura de hard news, jargão jornalístico usado para designar aquele tipo de conteúdo voltado para um grande público e que discorre sobre os acontecimentos mais recentes do dia a dia, foi (e segue sendo) super importante para manter as pessoas informadas sobre as regiões mais afetadas pelo vírus, os cuidados para evitar o contágio e, principalmente, as medidas que estão sendo tomadas pelo poder público para enfrentar a situação junto à população (ou contra ela, em alguns casos). No caso da Globo, a líder de audiência na TV aberta, a aposta na cobertura extensiva com foco nas hard news se destacou. Parte da programação de entretenimento foi suspensa para dar lugar a programas jornalísticos. Todos os dias, das 04h às 15h (ao todo, 11 horas consecutivas), a emissora transmite programas ao vivo cujo foco é a cobertura da pandemia. O carro-chefe do jornalismo da emissora, o Jornal Nacional, também teve seu espaço ampliado e passou a ter 50 minutos de duração. Isso fora os telejornais locais, o Jornal da Globo, os boletins que entram nos intervalos da programação, e daí por diante. É sem dúvida um enorme esforço, que demanda comprometimento e organização.

Mas essa estratégia de cobertura estendida que, no início, serviu como um alento às mentes e corações desassossegados pela ameaça da doença, com o passar do tempo parece se aproximar de um ponto de saturação. Há falta de originalidade nas pautas. 

Pesquisas e dados são divulgados mas, em alguns casos, há pouca interpretação e contextualização. O monotema “coronavírus” se torna cansativo, as informações se repetem noticiário após noticiário, os índices sobre o número de infectados e mortos nos países atingidos são atualizados várias vezes ao dia, e isso tudo, ao invés de tranquilizar, pode causar sentimentos de impotência, ansiedade e tristeza nas pessoas, como alertam especialistas em saúde mental. Tanto que a recomendação tem sido limitar o volume e o tempo que se passa consumindo informações.

À Pública, o autor do livro “A psicologia da pandemia”, Steven Taylor, relembra outras vezes em que a humanidade passou por momentos como esse e afirma que somos resilientes, porém também aconselha limitar o volume de notícias sobre o tema, além de reforçar o contato com amigos e familiares. Como sustentar tantas horas de programação jornalística diárias e, ao mesmo tempo, evitar a repetição de informações? Como manter a população bem informada sobre a pandemia sem, no entanto, saturá-la? É uma situação difícil, mas uma coisa parece certa: o jornalismo diário, principalmente o televisivo, precisará em breve se reinventar se não quiser se tornar causador de angústia, ao invés de orientação, e desinteresse, ao invés de referência. Boas saídas podem ser produzir dados confiáveis e contextualizados sobre a pandemia, e criar conteúdos que alertem a população sobre os riscos da desinformação, como apontou a pesquisadora Lívia Vieira na newsletter do Farol Jornalismo. Outra solução, segundo ela, é dar ênfase para a checagem dos fatos.

O antídoto para a crise de desinformação também é a chance do jornalismo

Aí vem outro problema: em tempos de isolamento social, o excesso informacional não 
vem só da TV ou de outros meios jornalísticos. Pessoas em casa consomem muito mais conteúdo on-line e se comunicam mais via redes sociais e mensageiros instantâneos, que podem estar lotados de fake news. É fácil criar desinformação num contexto de tantas incertezas, e ela vem, aliás, de todos os lados: as autoridades políticas, que deveriam ser as primeiras a combater informações falsas, são responsáveis por alguns dos surtos de fake news sobre a pandemia, conforme aponta um artigo assinado por fact-checkers brasileiros. Quem deveria demonstrar confiabilidade e proteger a população, é flagrada endossando dados errados sobre vacinas, distanciamento social e origem do novo coronavírus.

Isso tem dado bastante trabalho às agências de checagem, que estão na linha de frente desse combate. No fim de março, a Pública conversou com as chefias de quatro agências brasileiras (a Lupa, Aos Fatos, E-farsas e Estadão Verifica) e apontou que o volume de informações falsas que circulam sobre coronavírus surpreendeu até os fact-checkers. A média é de três novas fake news por dia, e as mais compartilhadas, segundo eles, são sobre receitas milagrosas e teorias da conspiração. Os checadores trabalham em conjunto com pesquisadores(as) e agentes de saúde para desmentir os boatos que se espalham por aí, mostrando o que é confiável em meio ao oceano de desinformação.

Mas se tem uma notícia boa em meio a essa crise, é que o cenário de pandemia tem relembrado às pessoas o valor da ciência e do jornalismo, que andavam com a imagem desgastada pelos discursos anti-científicos e pelos ataques proferidos por governantes, entre as quais o atual ocupante do cargo de presidente do Brasil. O filósofo Mário Sérgio Cortella também aposta na recuperação da confiança na mídia e na ciência como um dos legados da pandemia, e os dados da pesquisa Datafolha parecem endossar isso: a TV e os jornais são vistos pela população como os mais confiáveis na divulgação de informações sobre a crise do novo coronavírus, em detrimento de informações obtidas nas redes sociais. Esta parece ser uma chance de ouro para provar, de uma vez por todas, que o jornalismo é essencial para a sociedade. Que informação verificada, contextualizada e bem elaborada é capaz de nortear decisões melhores em momentos de crise.

Andressa Kikuti
Doutoranda em Jornalismo (PPGJOR/UFSC) e pesquisadora do objETHOS
Fonte: Jornal GGN